O debate entre reitoráveis realizado pela Apruma no último dia 18 serviu para que a comunidade universitária conhecesse um pouco mais das propostas dos candidatos que compareceram (os professores Ridvan Fernandes, Welbson Madeira e João de Deus) – dos quatro candidatos, apenas o professor Natalino Salgado não compareceu e não justificou ausência à comunidade, que acompanhou, em tempo real, o debate nos diversos campi da UFMA pela Internet. A ausência foi criticada nas participações via redes sociais, como pode ser visto no link da íntegra do evento ao final desta matéria.
Foi uma arguição em torno de ideias, com participação de alto nível entre os presentes, que fizeram a opção por debater os temas de interesse da Universidade, segundo as regras preestabelecidas pela Seção Sindical e acordadas entre representantes dos candidatos.
Vice-Reitoria
Antes da interação entre os candidatos a reitor, os postulantes à vice-reitoria dispuseram de tempo também para apresentar suas candidaturas.
Compareceram a esta apresentação os professores Allan Kardec, Antônio Oliveira, Luciano Façanha e Walter Nunes; os professores Wener Santos, Marcos Fábio e José Eduardo Batista não compareceram e nem justificaram.
O professor Allan Kardec destacou ter experiência e capacidade de diálogo com atores internos e externos à Universidade, em especial com o Parlamento Brasileiro.
Professor Antônio Oliveira apresentou seu currículo para também destacar sua experiência, inclusive com duas vice-reitorias e outros cargos na estrutura da Universidade.
O professor Luciano Façanha reforçou a necessidade de diálogos e de uma postura propositiva, que escute os segmentos da comunidade universitária. Lembrou ainda os cortes na Educação e as perseguições à áreas como Filosofia e Sociologia. Falou em atualização da legislação da UFMA.
Professor Walter Nunes comprometeu-se a fazer um diagnóstico da estrutura física junto aos setores da Universidade para estabelecer prioridades e a captar recursos para a conclusão de obras.
Debate
Sempre seguindo ordem de sorteio, os participantes responderam perguntas e teceram comentários sobre temas também sorteados. A mediação foi feita pelo radialista Robson Júnior.
Nessa dinâmica, o candidato Welbson Madeira de início declarou ser necessário assegurar a autonomia universitária e a nomeação de quem vencer a consulta prévia. Contrapondo-se à fala do colega Walter Nunes, candidato a vice-reitor sobre ‘universidade empreendedora’, lembrou a luta de entidades militantes da Educação Pública, como o Andes, para garantir 10% do PIB para o setor. Nesse contexto, disse ser preciso garantir inclusive a autonomia financeira, lembrando que Educação é dever do Estado.
João de Deus, por sua vez, destacou que os indicadores de desempenho da Universidade são fundamentais para captação de recursos e, nesse sentido, a política de ensino estaria no pilar da pesquisa e da extensão. Como exemplo desse arranjo, lembrou o papel desenvolvido pelo Colégio Universitário.
O professor Ridvan também chamou atenção para a defesa da autonomia da Universidade como um direito constitucional. Para ele, o próprio modo como hoje se dá a consulta prévia já aponta que a autonomia universitária não é plena, não é respeitada em sua plenitude.
Questionados sobre carreira docente, especialmente a paridade entre docentes aposentados e na ativa, Welbson destacou o papel do Andes como referência na defesa de princípios como esse, nessa luta que é nacional. João de Deus, por sua vez, afirmou que a equiparação é uma luta diante um cenário desafiador.
Sobre Assistência Estudantil, Ridvan pontuou que essa não é apenas uma questão de concessão de bolsa, mas algo mais amplo. Nesse sentido, Welbson lembrou a luta para a conquista da Casa no Campus pelos estudantes. Os candidatos assentiram que é preciso garantir acesso e permanência, com condições estudantes para entrar na universidade e poder desenvolver atividades como pesquisa, além da necessidade de se olhar para programas como PIBID, PIBIC, PET, além de projetos de extensão no continente que estejam articulados a outros setores, como Ensino Básico.
Sobre este ponto, estudantes presentes ao debate apresentaram uma carta cobrando enfaticamente Assistência Estudantil efetiva. Os candidatos ouviram as demandas, receberam o documento lido para o plenário e se disseram comprometidos em resolver os graves problemas apontados.
Aplicação de recursos
Ridvan destacou o grande número de obras inacabadas e de “péssima qualidade”, com teto caindo no Centro Paulo Freire e outros problemas como os verificados nos campi do continente. Para Welbson, é necessário fazer uma auditoria dos últimos doze anos nas contas da Universidade. João de Deus classificou como lamentável o desvio de verbas nas instituições de ensino, e que seria preciso garantir transparência e medidas de controle. No caso da UFMA, disse que há processos administrativos instaurados e que os responsáveis devem responder para que os recursos sejam recuperados, inclusive para que sejam aplicados no término das obras.
Também foi lembrado pelos debatedores o papel danoso da Emenda Constitucional 55 sobre os recursos da Educação Pública, com aporte financeiro congelado por vinte anos, como lembrado por João de Deus. Nesse quesito, Ridvan reforçou que é o estado que tem que bancar a Universidade Pública. Welbson acrescentou à discussão o papel danoso das contrarreformas, como a trabalhista, aprovada sob Temer, que “retirou direitos de pessoas que estão nesta Universidade e que são invisibilizadas, caso dos terceirizados”, disse.
Respeito à Organização Sindical
O tema foi abordado durante participação da plateia. A professora Cláudia Durans levantou o questionamento sobre a posição dos candidatos ante a implantação de um sindicato paralelo e os ataques desferidos à Apruma, que efetivamente representa os docentes, por gestões da UFMA. Welbson destacou que, mesmo com divergências, a Apruma é, enquanto sindicato, seu “porto seguro”; já Ridvan lembrou a luta da Apruma para manter os empregos dos professores quando o então presidente Collor decidiu demitir os recém-contratados no início de seu governo; João de Deus disse ter respeito pela militância da Apruma, afirmando que a outra estrutura fora montada para atender interesses privados. Com isso, disse lamentar sua criação, já que o propósito dela é equivocado. Disse ainda que o “corte criminoso” de recursos deve ser combatido.
Descentralização
Essa foi uma questão presente em boa parte do debate, especialmente pautada pelos docentes que acompanharam a atividade nos campi do continente.
Para Ridvan, existe um “isolamento institucional dos campi do continente”, advindo de uma “centralização brutal que não é feita para atender os campi, que é onde funciona a Universidade”. Para ele, essa é uma bandeira urgente para enfrentar um modelo propositalmente centralizador, que tem o “olhar de uma gestão que não chega na base. Esse é o histórico da instituição”, disse. Para isso, disse dispor de um programa com uma matriz de distribuição de recursos, mesmo levando em conta o grau de dificuldade de fazê-lo.
João de Deus pontuou que a descentralização é pauta urgente, e que pretende atura nesse sentido desde o primeiro momento, através de uma gestão democrática e participativa, com repasse de recursos e de responsabilidades divididas entre as unidades.
Welbson destacou, nessa questão, a importância de uma Estatuinte, que aponte nesse caminho e corrija um modo de gestão que não contempla a descentralização e que portanto caducou. Assim, defende que é preciso assegurar autonomia das unidades desde o Regimento da Universidade.
Governo Bolsonaro
Questionados pelo professor Diogo, do campus Pinheiro, sobre a postura em relação ao governo central seria de diálogo ou de enfrentamento, os candidatos responderam:
Para Welbson, “como gestor, você tem que manter relação institucional, mas a postura não é de subserviência. João de Deus destacou o papel da Andifes (associação dos reitores das universidades federais), que para ele é uma entidade “forte e que luta”. Para ele, nesse relacionamento fica ressaltada a importância dos indicadores de desempenho para abrir um diálogo, apontando para o caminho da interlocução. Ridvan destacou que quer ser reitor de uma instituição com autonomia assegurada pela Constituição, e que nesse sentido cada um tem seu papel (que deve ser respeitado, inclusive do governo e relação à Universidade).
Estes foram apenas alguns dos destaques no debate que durou quase três horas discutindo a Universidade. A íntegra da atividade está disponível no link a seguir.
https://www.facebook.com/apruma.secaosindical/videos/922541814745241/