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Debate apresenta análises sobre a América Latina

O Debate “Imperialismo, Democracia e Lutas Sociais na América Latina”, promovido pela Apruma na UFMA na última quinta-feira 14 de novembro, reuniu docentes e demais interessados no tema para analisar a questão da América Latina, contrapondo duas análises cujas linhas gerais, em um dos polos, veem os governos ditos progressistas do continente como alinhados ao capitalismo mesmo que isso tenha significado sacrifício de setores da população e de certa forma contribuído para o avanço da direita e, do outro lado, justamente como contraponto à hegemonia das elites locais alinhadas ao imperialismo – o que teria levado muitos deles a sucumbir ou a enfrentar resistência, como na Bolívia e na Venezuela.

O debate organizado pela Apruma foi deliberado em Assembleia Geral, sendo resultado do questionamento de setores da categoria docente em relação a resoluções do último Congresso da CSP-Conlutas, central a que Andes-SN e Apruma são filiados. As divergências ficaram então de serem tratadas de forma democrática com a análise dos assuntos que as originaram, como foi feito agora com a questão latino-americana, num momento de ebulição no continente. A diretoria da Seção Sindical deve trabalhar ainda uma atividade que aborde a conjuntura nacional.

Para “defender” o primeiro tipo de análise, foi convidado o advogado e militante da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores) Américo Astuto Rocha Gomes, enquanto o professor Jair Pinheiro, da Unesp/Marília, abordou o segundo ponto de vista.

“Não é uma onda conservadora”

Américo iniciou sua fala contestando a ideia de que o que se vê hoje no continente, e mesmo no mundo, seja uma onda, um avanço do conservadorismo e da direita, mas uma expressão da luta de classes.

Quanto às lutas populares que abalaram as estruturas neoliberais no Chile, ele tratou de classificar como um processo revolucionário. No caso da Bolívia, não poupou crítica a Evo Morales que, “em vez de privilegiar os setores mais empobrecidos da população, optou pelo imperialismo”, citando inclusive a entrega do militante italiano Cesare Battisti, a saudação a Bolsonaro quando do resultado das eleições, o apoio aos setores latifundiários da região de Santa Cruz, o rompimento da Central Obrera Boliviana (COB) com seu governo. Em relação à ascensão de setores militares, racistas e fundamentalistas, no entanto, o palestrante assentiu tratar-se de “golpe contra os trabalhadores e contra o governo”. Para ele, entretanto, “Evo fugiu, abandonou a própria classe à própria sorte”. Ele disse que é importante aprender com esse tipo de lição, de que é impossível aliar-se com setores que posteriormente golpeiam governos ditos populares.

Sobre a situação da Venezuela, sua posição também não foi diferente. Para ele, “acordos com a burguesia e o imperialismo dão base para eles (esse setores) crescerem e atacarem o próprio governo. Não se apostar no crescimento da ação direta e na mobilização da classe trabalhadora, é isso que se vai encontrar: mais ataques da direita à classe”.

O ponto diferentemente positivo nessas situação é que, segundo ele, “A classe está construindo seus movimentos de luta”, e é isso que tem que ser priorizado pelas organizações, devendo ser aprofundado em vez de acordos com setores burgueses, com o imperialismo e saídas institucionais”. No caso da situação extrema da Bolívia, por exemplo, o que tem de ser feito, para ele, é um chamado à “mobilização, a ação direta e a resistência ao golpe”.

“Compreender o que é o imperialismo e sua política genocida: se eu conheço errado, eu opero errado”

O professor Jair Pinheiro começou sua fala criticando o que pode ser considerado uma espécie de purismo das esquerdas, que esperariam uma “revolução socialista ‘puro-sangue'”, que não levaria em conta a concretude dos momentos em cada situação. Segundo ele, o problema é que a história não teria registrado em nenhum momento uma revolução desse tipo.

Ele citou o exemplo da Venezuela, que segundo ele não pode ser visto como um caso de revolução socialista, “mas a revolução bolivariana é uma revolução democrática-popular”, de “refundação” da República. “Impressionante o tanto de gente que fala, no Brasil, bobagem sobre a Venezuela, sem conhecer a legislação venezuelana nem a Venezuela”. Ele fez uma reconstituição a partir de seu ponto de vista do quadro daquele país desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder até a situação de hoje, lembrando que quem chamou o processo constituinte foi o próprio Chávez.

A Constituição Bolivariana, lembrou, foi submetida a plebiscito e aprovada por 85% da população. Chávez, por sua vez, tem sua atuação política marcada por ser um militar nacionalista – e o fato de ser nacionalista na América Latina, marcada pelo colonialismo e pela opressão imperialista já seria um diferencial: sua ação política (de Chávez) emerge no levante de 1992, sofrendo um golpe de forças antichavistas em 11 de abril de 2002. Com a revolta popular ocupando as ruas, esse golpe torna-se insustentável, e fracassa em dois dias. Em 2005, acontece a “inflexão ideológica de Chávez, que passa a defender que a revolução bolivariana deve ser socialista. Ele descobriu que na América Latina não dá para ser nacionalista sem ser socialista”, num cenário em que a burguesia está associada ao imperialismo. É nesse ponto que, para o professor, é preciso compreender efetivamente o que é o imperialismo e sua política genocida. Do quadro atual, ele destacou o sufocamento da economia (pelas forças imperialistas) para provocar o desabastecimento, mas que, apesar disso, o “regime” não caiu (o que denotaria apoio de setores da população ao governo). Ele citou ainda as manifestações antichavistas marcadas por atentados e queimas de prédios públicos, com “manifestantes” ostentando dizeres como ‘faça justiça, mate um chavista’. Essas manifestações são democráticas?, questionou, lembrando que meios de comunicação como a Rede Globo ressaltam que “chavistas queimam caminhões”, mas não diz nada sobre esse tipo de atuação. Pinheiro destacou ainda o que considera uma série de ‘contradições” no processo venezuelano, destacando também o fato de o setor chavista não ser uma força monolítica, mas formada por diversos setores que inclusive disputam entre si. Sobre o discurso de a Venezuela ser um país socialista, ele diz que a Constituição aponta para um esforço pelo socialismo, mas que o país não o é: apenas é propagandeado pela direita como sendo socialista, como se isso fosse uma espécie de ameaça: ajuda-se a propagar o caos e diz-se que ele seria fruto do socialismo, como forma de buscar evitar adesões a esse sistema. Sobre como atuar em um cenário tão complexo no continente, pode-se dizer que há certa aproximação com a fala anterior, de que é preciso ir para o enfrentamento (embora, neste caso, defenda-se que o enfrentamento seja para defender conquistas populares ainda que signifique defender pontualmente os governos nos quais elas foram produzidas, mesmo reconhecendo contradições, em vez de a luta ser pela derrubada desses governos ditos progressistas). Para que isso se dê, ele coloca que é preciso partir de uma análise acurada da situação, pois, “se conheço errado, eu opero também errado”.

Confira, nos vídeos, as falas de Américo Rocha Gomes, e na sequência, a de Jair Pinheiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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