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Acompanhe um pouco como foi a manifestação virtual contra a tentativa da Administração Superior de forçar o ensino remoto na UFMA

Aconteceu na última sexta-feira a live manifesto Ataque à Democracia e Autonomia Universitária: Resolução 1999/2020, Trabalho Remoto e Resistências na UFMA, promovida pela Apruma e diversos segmentos do Movimento Estudantil na Universidade, contrários à tentativa de estabelecimento, ad referendum, das Resoluções 1998 e 1999, que pretendem instituir o ensino remoto na Universidade, sem contudo, de acordo com as análises destes agentes, proporcionar infraestrutura adequada nem abrir um real debate com a comunidade universitária sobre o assunto.

Naquela mesma tarde, aconteceu mais uma entrevista de representantes da Administração Superior que pretendem dar a Resolução como aprovada pela maioria da comunidade (se não pela unanimidade): num prazo de 72 horas, foram ao menos três entrevistas em canais importantes da Universidade – Rádio Universidade FM e TV UFMA – vendendo a versão de que esse é um assunto pacífico. Ao contrário das noções básicas de jornalismo, até o momento o contraditório não foi assegurado nestes espaços.

A live manifesto foi coordenada pela professora Cacilda Cavalcanti, que fez destaques pontuais ao que indicaram os demais participantes: o professor Waldílio Siso, do Campus Codó, e as estudantes Eunice Brasil (Pedagogia e membro do Movimento Correnteza), Adriley Costa (Centro Acadêmico de Filosofia), Louyse Sousa (Centro Acadêmico Maria Aragão – História) e Joyce Veceli (Centro Acadêmico Rosilda Dias – Enfermagem).

Louyse (História) ressaltou, entre diversos elementos, que os Centros Acadêmicos, que representam o conjunto de estudantes de cada faculdade ou curso das universidades, não foram consultados sobre a tentativa de estabelecimento do ensino por meio remoto. Como modo de forjar uma consulta aos discentes, em lugar dos CAs, foram as atléticas as organizações procuradas pela Administração, sendo que, como o próprio nome indica, elas não se incubem deste tipo de representação estudantil, nem sequer reivindicam este papel.

Adriely, do CA de Filosofia, por sua vez, apontou uma ação leviana por parte da Administração Superior em fazer uma divulgação de resultados parciais sobre a pesquisa em andamento (que embasaria esse tipo de retorno), com números absolutos (por sua vez questionáveis) camuflando as realidades nos mais diversos campi: ela aponta que há campus em que a pesquisa não atingiu sequer um terço dos estudantes, e vem sendo divulgado, em números gerais, como se metade dos discentes já tivesse se posicionado. Para ela, isso é uma forma de obrigar a aceitação do que está previsto na Resolução 1999, que prevê a retomada do ensino em meio à pandemia. Parece que se esquece totalmente do momento em que a gente está. O Brasil caminha para ser o epicentro (da pandemia). Isso é desconsiderado pela Administração (Superior) ao possibilitar a volta com período especial que prevê disciplinas obrigatórias, orientações, estágio. Desconsidera que tem pessoas doentes, estudantes doentes, professores doentes, familiares, pessoas (familiares) doentes. Não é que professor não queira dar aula; que estudante não queira aulas. A maioria não tem acesso a equipamentos; a maioria não consegue ter acesso a essa proposta. Não estamos de férias, e sim no meio de uma pandemia. Não pode oferecer retorno a um terço e deixar a outra parte desassistida, isso é promover a desigualdade; colocar alunos em uma situação de inferiorização. Parece que a instituição desconhece isso ou se faz indiferente a isso”.

A estudante prosseguiu, destacando que a tentativa de normalizar essa proposta (dá-la como natural, como amplamente aceita e como se tivesse recebida sem contestação) não leva em consideração estudantes e professores. Sendo assim, segundo ela, as unidades e subunidades acadêmicas podem, nesse contexto de imposição, não ofertar disciplinas, como forma também de contestar essa imposição. Ela diz que o movimento estudantil tem se posicionado de modo contrário à Resolução 1999, e que justamente por isso tem sido excluído do processo de discussão sobre a normativa. “Ainda não tínhamos analisado e a UFMA já tinha publicado a resolução. Não podemos aceitar medidas autoritárias, (e precisam ser) enfrentadas (em) um momento difícil para a Educação, que precisamos defender de fato, que deve ser pública e igualitária”, conclamou.

O professor Waldílio classificou a pesquisa anunciada como subsídio dessa forma de retomada do ensino na UFMA como capciosa, é que é preciso fazer os devidos questionamentos. Ele lembrou que, em reunião virtual com o Campus Codó, a Pró-reitoria de Ensino (PROEN), a vice-reitoria e outras representações da Administração Superior anunciaram recursos para instituir esse retorno, mas não responderam em relação aos prazos para isso. “Nossa preocupação é justamente com a exclusão”, disse ele, pontuando ainda que a forma como a Administração Superior vem tratando a questão denota que ela não está minimamente preocupada em resolver questões básicas de problemas sérios historicamente apontadas pela comunidade universitária, em especial à situação nos campi distantes da Sede. “Nossa instituição é uma das primeiras a propor esse tipo de retorno, isso no Estado líder de exclusão digital”, lembrou. Para ele, essa é mais uma mostra do alinhamento da gestão atual da UFMA à política atual do ministério da Educação (MEC) – marcada, lembre-se pela perseguição ideológica e pelo estrangulamento financeiro da Educação Pública – além de, no contexto da pandemia, ser um dos ministérios que mais brada contra a política de distanciamento social, uma das únicas medidas efetivas até o momento para se evitar o alastramento do novo coronavírus. Nesse contexto, o professor também chama a um posicionamento firme pela busca da imediata revogação das resoluções 1998 e 1999/2020.

Diferente do posicionamento da Administração Superior em relação a esse assunto, contudo, Waldílio declara que o que se está reivindicando nesse momento é o diálogo. “Estamos abertos ao diálogo com a Administração Superior, que precisa dar garantias concretas de condições infraestruturais e capacitação efetiva para essas tecnologias, para docentes e estudantes. Queremos dialogar, nos dê espaço para construir alternativas coletivamente, com respeito à autonomia universitária, incluindo os campi do continente, historicamente deixados ao largo das decisões”.

Eunice Brasil, estudante de Pedagogia, por sua vez, ofereceu um relato dramático sobre as questões não levantadas pela Universidade no contexto da pandemia. Além disso, como mãe, seu relato foi intercalado com uma demonstração de como pode ser o ensino remoto nesse contexto, com uma Internet falha, que abreviou sua participação, além das atenções requeridas pelo seu filho pequeno enquanto fazia suas ponderações.

“O que a universidade sabe sobre o que estão passando os estudantes neste momento? Não houve preocupação sobre as questões sociais, psicológicas, dos estudantes? Pergunta sobre questões técnicas, mas e sobre quantos perderam o emprego? Quantos não conseguiram o auxílio emergencial?”, quis saber.

A estudante Joyce Veceli, do CA de Enfermagem Rosilda Dias (CAERD/UFMA), por sua vez, questionou a pressa de instituir a resolução antes de dar condições ao retorno. Por que, por exemplo, apressar o retorno por meio virtual antes mesmo de a Universidade garantir o acesso através dos equipamentos que disse iria adquirir para estudantes e docentes, entre outras questões práticas que opõe a pressa apontada na normativa com a realidade da vida acadêmica no momento.

A professora Cacilda agradeceu a participação tanto dos que contribuíram com suas experiências quanto dos que acompanharam as discussões. Para ela, são evidentes as concepções divergentes de formação, de universidade, de projeto social entre o que defende quem está à frente da UFMA e o que apontaram quem vive a realidade da instituição em seu cotidiano. Para ela, as falas apontaram a defesa da função social da Universidade, que não pode ser subjugada pela proposta do mercado para a instituição. Nessa questão, e a comunidade e sua participação que estão mais aptos a oferecer respostas aos problemas da própria Universidade – e, por conseguinte, da sociedade, que o que está previsto na resolução elaborada sem discussão, aprovada sem análise do Colegiado competente.

Confira a íntegra da transmissão:

https://www.facebook.com/apruma.secaosindical/videos/251108519288984/

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