No último sábado, 5 de fevereiro, aconteceram atos por todo o país denunciando o assassinato e cobrando justiça para Moïse Kabagambe, congolês refugiado no Brasil, executado na orla do Rio de Janeiro, na praia da Barra da Tijuca, no quiosque Tropicália. Moïese foi espancado até a morte por vários homens, que chegaram a usar taco de golfe, após cobrar as diárias trabalhadas no Tropicália.
O professor Fernando Pedro Dias, da diretoria da APRUMA, participou do ato realizado na manhã de sábado no Centro de São Luís, convocado pelo movimento negro e que contou com a participação de vários manifestantes. Após o protesto, ele deixou suas impressões registradas no forte depoimento “A morte programada do corpo negro no Brasil” publicado a seguir.
A morte programada do corpo negro no Brasil
Ontem, 5 de fevereiro de 2022, estive na Praça Deodoro, São Luís-MA, tomando parte no ato público de protesto em nome do Moise, cidadão congolês, espancado até a morte no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
A morte do Moise não constitui um caso isolado, mas sim, um entre os irmãos e irmãs de pele negra que o Estado brasileiro nega os seus direitos de ser humano, e permite que qualquer pessoa o considere sua propriedade e que pode fazer o que bem entende.
Os meus quase 22 anos do Brasil, me deu muita coisa boa: minha formação acadêmica e profissional, os amigos (as) que fiz, os ritmos musicais que adoro ouvir e dançar, os debates políticos e partidários, as discussões acadêmicas, o futebol, entre outros assuntos que me envolvem e participo com a certeza de que estou dando minha contribuição cidadã. Mas, confesso a vocês que todas as maravilhas que vivo no Brasil, o que me assusta é a certeza de que posso ser a próxima vítima, em qualquer instante e esquina. Não importa o que sou e faço, a certeza é que o corpo negro no Brasil é reduzido as cinzas a qualquer instante e por qualquer circunstâncias. Se amanhã, eu vir a ser o próximo, saibam que tentei ser o mais correto possível entre os seres humanos que habitam esse planeta.