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Falta de estrutura compromete retorno presencial, e cursos são obrigados a suspender aulas na UFMA

Professores/as e estudantes retornaram às aulas presenciais e, para decepção de todos, se depararam com uma universidade assustadoramente deteriorada em sua estrutura física, laboratorial e logística“. A constatação é da professora Ilse Gomes, do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA e atual secretária geral da APRUMA.

O quadro narrado pela docente foi o responsável para que, ainda na semana de retorno das atividades presenciais na Universidade, a comunidade acadêmica se visse forçada a, depois de mais de dois anos de aulas, pesquisas e extensão remotas, suspender o trabalho presencial por falta de estrutura mínima de funcionamento.

O professor Wagner Cabral, chefe do Departamento de História, narra a situação encontrada em seu primeiro dia de aula presencial no turno noturno, depois de todo esse período:

“Na segunda-feira (30), no reinício dos trabalhos presenciais, começamos a verificar a falta de condições: cantina fechada, falta de bebedouros, precariedade dos banheiros, problemas com ar condicionado das salas… depois que a gente começou a aula, chegou a notícia de que não estava mais circulando o ônibus no campus àquela hora. Os representantes estudantis conversaram conosco, e a gente decidiu encerrar a aula mais cedo. Aí orientamos os alunos a saírem em grupos para evitar qualquer coisa. A gente não pode trabalhar somente em cima de tragédias, a gente tem que ter uma postura preventiva. A inexistência de ônibus, e também a iluminação pública que não existe no Campus – experimente passear agora à noite, às 19h no Campus: você vai ver que não tem iluminação nenhuma – isso gera a possibilidade de ocorrer uma tragédia, que ninguém deseja, e que por isso tem que ser prevenido. Por isso orientamos que os alunos saíssem em grupo, acompanhamos tudo e também fizeram a mesma coisa os nossos colegas do curso de Estudos Africanos, e imediatamente fomos conversar com nossos colegas do Departamento de História e anunciamos a suspensão das aulas, porque é o nosso dever, como chefe de departamento, como professor e como cidadão evitar tragédias e defender a universidade pública. Eu fui para a universidade, defendi a volta presencial exatamente para defender a universidade pública, gratuita e de qualidade, é preciso ocupar o campus, ocupar a universidade, exatamente para saber onde estão nossos problemas, o que que houve durante esses dois anos, se houve manutenção, e pelo visto não houve; onde estão as verbas de manutenção, quais os impactos dos novos cortes anunciados recentemente, também nas verbas de manutenção e custeio… é preciso encarar essas questões, defendendo a universidade pública e também a ocupação da universidade”.

Com a impossibilidade de seguir com esse cenário, o Departamento de História oficiou ao gabinete da reitoria no dia imediato a essa constatação, segundo documento obtido pela APRUMA:

No documento, o Departamento narra o caos encontrado no retorno, lamenta o descaso e solicita a tomada de providências urgentes.

Conselho do CCH também indica suspensão presencial em razão da estrutura crítica e falta de segurança

Também nessa data, 31 de maio (última terça-feira), o Conselho do Centro de Ciências Humanas reuniu-se extraordinariamente para tratar a questão. Como resultado da reunião, em ofício à diretoria do referido Centro, “decidiu pela suspensão das aulas do turno noturno do Centro de Ciências Humanas na modalidade presencial pelo prazo de quinze dias, a contar de 31 de maio de 2022, para que as adequações necessárias sejam realizadas“.

O documento indica a falta de “iluminação externa, o que compromete inclusive a segurança de discentes, docentes e técnicas/os”; o horário restrito de circulação dos ônibus que atendem a UFMA/Campus São Luís, que “estão circulando no interior do campus apenas até às 18:40, sendo recolhidos às 19:00 horas”. O ofício lembra que providências já haviam sido “solicitadas pela Direção do Centro de Ciências Humanas à Administração Superior da UFMA, no que diz respeito a medidas que visem ao pleno funcionamento do prédio CCH e adjacências, para atendimento”. Com a falta de ação por parte da Administração Superior em garantir o mínimo necessário, o Conselho orientou, para os próximos quinze dias, a volta às aulas remotas como forma de não prejudicar o andamento das atividades.

A APRUMA também teve acesso à íntegra deste ofício, que destaca essa situação e pode ser visto no link a seguir:

“Fica claro que a reitoria evita o retorno presencial”

Procurada, a representação estudantil destaca a omissão da Administração Superior em dar resposta ao quadro presenciado nas Unidades da UFMA. Segundo Rommel Botafogo, membro da gestão pro-tempore do DCE/UFMA, não é sem propósito a deterioração a olhos vistos da estrutura da Universidade Federal do Maranhão: “A Universidade teve tempo hábil para se planejar e organizar a retomada presencial. Não foi apresentado plano de retorno ou protocolo sanitário quando questionamos. Fica claro que a Reitoria evitava o retorno presencial. E agora, mesmo anunciando a volta das aulas presenciais, convivemos com vários problemas, como falta de iluminação e o transporte público precário. É uma questão de segurança: não podemos esperar uma estudante ou um estudante ser assaltado, ou algo pior que isso, para agir”.

A professora Ilse também ressaltou essa falta de aproveitamento do tempo para se preparar a retomada: “A UFMA, depois de dois meses do início do semestre, não garante as condições mínimas para as aulas presenciais. Falta transporte público suficiente, iluminação pública, segurança, higienização do espaço, funcionamento do RU em condições satisfatórias. Essas péssimas condições ameaçam o esforço e o empenho dos professores, técnicos e estudantes em retornarem às aulas presenciais“. A professora é clara: “A Reitoria precisa assumir o compromisso com a qualidade do ensino presencial na UFMA“.

A Apruma, por sua vez, continuará cobrando a estrutura para a realização adequada das atividades, tanto na sede quanto nas demais unidades e subunidades acadêmicas. Também está à disposição de toda a comunidade para tratar dessa questão, podendo ser acionada através de seus representantes e também em seus diversos canais. A defesa da Universidade Pública, seu funcionamento e sua existência, segue firme como bandeira do movimento docente.

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