NOTÍCIA PUBLICADA PELA FOLHA
No dia 10 de julho, a Folha de São Paulo publicou matéria sobre reunião do MEC, CONSED, lideranças do governo, Câmara Federal e organizações do Movimento Todos pela Educação. O NEM afinal tinha sido aprovado e deverá ser implementado até 2025.
ANÁLISE SINTÉTICA DO NEM
Para educadores-militantes de todas as regiões do Brasil, docentes de IFES e pesquisadores integrantes de grupos de pesquisa cadastrados no CNPQ, que tentaram expor ao governo as razões pelas quais defendiam a revogação da CONTRARREFORMA DO ENSINO MÉDIO e lutaram, sistematicamente por essa pauta, restou um gosto amargo, por mais uma bandeira de luta perdida.
Aliás, esta era uma reivindicação muito cara da greve das IFES, incluída no acordo de uma mesa de negociações proposta pelo governo, para dar fim ao movimento paredista dos TAES e dos DOCENTES do ensino superior.
Então, como o tema foi exaustivamente analisado, discutido em profundidade pelos educadores-militantes, em relação aos quais os Ministros da Educação foram indiferentes, desde 2017, procuramos traduzir, sinteticamente, apenas o roteiro de mais uma derrota anunciada para os jovens das classes empobrecidas.
ONDE CHEGARÃO OS JOVENS DO NEM?
NEM alcançarão o ensino superior, após o aligeiramento de sua escolarização nesse “NOVO” ensino médio e, portanto, NEM estarão qualificados para alcançar postos mais avançados de trabalho, numa economia incapaz de absorver o contingente de jovens integrante da população economicamente ativa.
NEM terão perspectivas de futuro, pois o que lhes restará serão as ocupações de baixíssima remuneração, sem terem a condição de sequer contribuírem para o regime geral da previdência, visto que o trabalho parcial/intermitente, decorrente da precarização dos postos de trabalho, os conduzirá, crescentemente, à situação de modernos escravos do século XXI.
NEM terão a oportunidade de alcançar consciência crítica, a partir de concepções históricas, filosóficas e sociológicas emancipadoras, tornando-se reféns do fetiche da tecnologia, a partir da qual induz-se a ideia de independência e maior capacidade de conhecimento, o que resulta em grande medida em uma falácia.
NEM será superada a precariedade do seu letramento em línguas e matemática, pois o raciocínio lógico-dedutivo tem sido atrofiado na educação básica, desde os primeiros anos do processo de escolarização, apesar de toda retórica das consultorias que produzem a punção dos recursos públicos, sob a farsa da implementação de modelos de planejamento, gestão e avaliação que, há mais de duas décadas, impõem aos sistemas de educação dos entes federados.
NEM serão articulados os resultados da produção de conhecimento científico das universidades e institutos federais nos quais são aplicados recursos da educação, o que expressa o desprezo e indiferença do governo aos docentes, que na sua prática de trabalho potente realizam ensino, pesquisa e extensão para alavancar a educação em todos os níveis, tendo a possibilidade de fortalecer uma rede orgânica de educadores nas diferentes instâncias de elaboração de políticas públicas.
NEM poderão deixar de integrar o segmento da sociedade excluído pela ordem do capitalismo que reproduz incessantemente a desigualdade estrutural. Será ampliado o fosso entre os estudantes oriundos das classes empobrecidas que cursaram o ensino médio na rede pública e os estudantes da rede privada, que manterá o currículo tradicional de ensino médio, na qual se encontram os filhos da burguesia. Os estudantes das escolas públicas continuarão a trilhar itinerários formativos que lhes levarão a um projeto de vida imaginário, restando-lhes o simulacro de inserção no mundo do empreendedorismo apresentado como sendo capaz de resgatá-los da condição de subalternidade e pauperização.
NEM precisaria ser implantado o “Novo” Ensino Médio se os governos estaduais e as secretarias de educação tivessem posições independentes e não fossem parceiras das corporações privadas cristalizadas como a base do próprio Ministério da Educação.
* Maria de Fatima Felix Rosar – Professora aposentada Universidade Federal do Maranhão
** Orlando Oscar Rosar – Professor da Universidade Federal do Maranhão
O título do artigo, por sinal, muito perspicaz, já referenda o próprio texto, cuja análise denota não somente uma abordagem consciente e corajosa de quem conhece e luta por uma educação de qualidade para TODOS, como também uma triste denúncia dos que se sentem como que ” encurralados”e “impotentes” diante da falta(?) de uma percepção crítica um tanto mais responsável acerca do que realmente significa e resulta a promoção de EDUCAÇÃO PARA TODOS os brasileiros.
Grata pela divulgação.