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Resex Tauá-Mirim: Comunidades reivindicam decretação oficial da reserva

Cerca de 2.200 famílias de 12 comunidades da zona rural de São Luís – que integra a Amazônia Legal e abriga uma rica biodiversidade, com florestas tropicais, rios extensos, manguezais e diversos ecossistemas – lutam pela decretação oficial da Resex Tauá-Mirim, o que garantiria o uso sustentável do território e melhores condições de vida. Essa luta bate de frente com grandes empreendimentos, como portos, rodovias, ferrovias e indústria de alumínio, tudo voltado para a exportação de commodities.

Essa luta se arrasta desde 2003 e envolve as comunidades Taim, Rio dos Cachorros, Limoeiro, Porto Grande, Cajueiro, Vila Maranhão, Portinho, Jacamim, Amapá, Embaubal, Ilha Pequena e Tauá-Mirim. A morosidade do Estado em oficializar a reserva extrativista tem facilitado o avanço dos empreendimentos, que também provocam poluição, degradação ambiental e adoecimento, impactando a vida em toda a ilha de São Luís.

A luta das comunidades é para atingir 50 mil assinaturas através da plataforma “Salve a Floresta“. Acesse e assine a Petição neste link.

Leia a carta na íntegra:

Para: Luís Inácio Lula da Silva (Presidente do Brasil); Marina Silva (Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas); Mauro Oliveira Pires (Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade); Ricardo Lewandowski (Ministro da Justiça e Segurança Pública)

Nós abaixo assinados, extrativistas que cuidamos e vivemos no território da Reserva Extrativista Tauá-Mirim, juntamente com outros povos e comunidades tradicionais, organizações da sociedade civil, movimentos sociais e instituições de pesquisa, solicitamos O DECRETO DE CRIAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA TAUÁ- MIRIM.

O território da Reserva Extrativista Tauá-Mirim é formado por doze comunidades rurais: Taim, Rio dos Cachorros, Limoeiro, Porto Grande, parte do Cajueiro (Praia de Parnauaçu), parte da Vila Maranhão (Porto das Arraias), Portinho, Jacamim, Amapá, Embaubau, Ilha Pequena e Tauá-Mirim. Essas comunidades se localizam no município de São Luís, capital do estado do Maranhão, no nordeste brasileiro, na Amazônia maranhense, numa área de 16.663,55 mil hectares e perímetro de 71,21 km. Números não oficiais apontam a existência de cerca de 2.200 famílias que tem como principais atividades econômicas a pesca artesanal, a agricultura familiar e o extrativismo vegetal.

Desde 2003, as comunidades vêm lutando pela decretação da criação da RESEX. Em 2007, foi aberto o processo de criação, com os estudos socioambientais e o registro das audiências públicas realizadas, entregue ao Ministério do Meio Ambiente. Frente à indefinição por longo período sobre a criação oficial da referida RESEX, no dia 17 de maio de 2015, em Assembleia Popular ocorrida na comunidade do Taim, as comunidades dos territórios decidiram pela autoproclamação da existência de fato da

Reserva Extrativista Tauá-Mirim, com a criação de Conselho Gestor, com representantes das comunidades, inclusive as da área de entorno, e de várias instituições de apoio. A consolidação do Conselho e suas ações em defesa do território ocorrem através de reuniões regulares e está em funcionamento desde 2015.

A área solicitada para decretação da RESEX destaca-se por ser um refúgio de ecossistemas que vêm resistindo ao processo de degradação que acompanhou a expansão urbana, de infraestruturas de transporte e energia e da industrialização de São Luís. Abriga um conjunto de ecossistemas que resulta em uma paisagem singular, incluindo manguezais, dunas, restingas, brejos, juçarais, buritizais e babaçuais.

Nesta área ocorrem espécies animais ameaçadas de extinção como, por exemplo, peixe-boi marinho, gato maracajá, mero, tintureiro, cação-bicuda. Destaca-se também por abrigar a riqueza cultural de uma população que, desde o século XIX, vem interagindo com estes ecossistemas e neles buscando os recursos necessários para manter sua forma de organização comunitária e reproduzir sua cultura e seu modo de vida baseado na pesca e no agroextrativismo. O manguezal abriga as principais fontes de proteínas, segurança alimentar e renda para as comunidades, pois cerca de 80% das famílias da Resex e de seu entorno praticam a pesca de pequena escala, de espécies variadas de peixe, camarão, caranguejo.

Apesar das pressões que este ecossistema vem sofrendo, ele se mantém de inigualável importância para a manutenção do modo de vida das pessoas que habitam a região e para todo o município de São Luís. Pode-se afirmar que a Resex Tauá- Mirim e seu entorno significam para a capital do Maranhão o que a Amazônia significa para o Brasil: uma de suas últimas áreas conservadas e que presta significativos serviços ambientais a toda cidade. O reconhecimento de tal riqueza ecológica e cultural justifica a criação de uma Reserva Extrativista. Nesta categoria de unidade de conservação, prevista pela Lei do SNUC no 9.985 de 18 de julho de 2000, homens e mulheres são reconhecidos como agentes e co-gestores da conservação, demandando uma participação efetiva das populações que têm seu modo de vida diretamente associado à interação com o território.

Com amparo na Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto Nº 6.040 de 07 de fevereiro de 2007, que tem como objetivo garantir a estes povos seus territórios e o acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e econômica, é que demandamos a criação, de fato e de direito, e a efetiva homologação da Reserva Extrativista Tauá-Mirim, como um instrumento adequado para atingir este objetivo.

 

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