Aconteceu nesta terça-feira, 27 de agosto, no Auditório Central da Universidade Federal do Maranhão o debate “Os Impactos do Future-se na Carreira e no Trabalho Docente“, com a participação da professora Marina Barbosa Pinto, da Universidade Federal de Juiz de Fora. A atividade foi promovida pela Apruma.
A programação contou com uma plateia de quase duas centenas de pessoas, boa parte docente interessada nas consequências da proposta para sua vida laboral. Outras centenas seguem acompanhando as duas horas de discussão do Future-se através da Internet, após transmissão ao vivo (cujo vídeo segue ao final desta matéria).
O que está em jogo
Para Marina, um dos pontos centrais é a configuração de um novo “ethos“, de uma nova identidade para o docente e para o trabalho docente. “Além de estudar, ensinar, pesquisar, participar de eventos e outros afazeres próprios da carreira, somente vamos fazer tudo isso se arrecadarmos para fazer (para desempenhar essas tarefas). A gente vai ser outra coisa como professor”.
Não bastasse isso, os docentes desempenharão esse papel de “arrecadador de recursos para o fundo”, para a entidade privada que irá gerir a universidade. “O professor na visão do Future-se passa a ser um escavador de recursos para o fundo privado, para a O.S, a organizações social que irá gerir a instituição”.
Essa nova perspectiva traz consigo uma disputa entre os pares nessa corrida por recursos. “Vamos enredar nas divisões, vai parecer que um vai se dar bem e outro vai se dar mal”, anotou Marina.
Anticiência
“A tendência desse projeto é que não se tenha mais a epistemologia da ciência, da cultura, da arte”.
Partindo dessa sua constatação, a professora Marina apontou a gênese da proposta. “De onde vem o Future-se? Ele é parte constitutiva de um projeto estratégico do capital que é mundial e não é brasileiro”, disse, apontando que sua preocupação não é, na realidade, com a educação. “Coaduna-se com a reforma trabalhista, com a reforma da previdência, com o pensamento mais predatório do capitalismo”.
Nesse contexto predatório, ela aponta que o que se propõe também é a reconfiguração das instituições (universidades e institutos), destruindo-as e destituindo-as da forma como as conhecemos hoje.
Além disso, “o projeto Future-se está inserido em um contexto anticiência, de um governo que é anticiência. Nem é da ciência pura, é contrária a isso”. Nesse cenário, temos a “obrigação de desconstruir o Future-se, desconstruir apresentando o que somos e como somos”.
Além da carreira docente e da desconstrução de universidades e institutos, outros aspectos em risco
A professora contextualizou o corte de verbas, das bolsas estudantis, destruição da assistência estudantil, que será aprofundada caso a proposta do Future-se seja aprovada. “Nós temos algumas questões para nos responder nesse momento: qual é a nossa situação real? Qual a nossa perspectiva se esse projeto passar?”, disse, refletindo que, diante de tudo o que foi colocado e diante de tudo o que está na proposta, “só temos uma alternativa em relação ao Future-se, que é a sua rejeição“.
Para isso, é necessário “fazer o debate, ir para dentro dos Conselhos Universitários e arrancarmos posição contrária, ganhar adesões, buscar apoiamos uns nos outros, difundir o que está por trás da concepção desse projeto, qual a questão de fundo”.
Para se contrapor ao projeto, é necessário reafirmar a democracia, a autonomia de gestão, didática, científica e financeira das instituições, defender a universidade pública como patrimônio da população brasileira, mostrar que somos capazes de solucionar problemas da população e que contribuímos para o desenvolvimento da nação, reafirmar a defesa da Educação Pública, Gratuita, Democrática, de Qualidade. Juntos somos capazes de vencer mais essa batalha e defender esse patrimônio da classe trabalhadora brasileira”.
Fala, professor/a!
Abertas as falas, vários presentes se posicionaram, contribuindo para a construção de alternativas na luta contra a interferência nas universidades representada pelo projeto.
Para o professor Ulisses Nascimento, é preciso mostrar que o Future-se “não nos interessa”. Para a professora Rosilda, é preciso vencer o medo na resistência aos ataques. Mary Ferreira desafiou a se pensar formas dessa resistência, com criatividade e firmeza.
Para o professor Marcus Paes, é preciso paralisar o andamento do Future-se e exigir que a construção de uma proposta se dê pela base. Ele alertou ainda para a necessidade de se ampliar a resistência, e pressionar as administrações para que se posicionem: “onde estão os atuais e pretensos futuros gestores que não estão aqui nesta importante discussão”, questionou.
Mais uma vez, a professora Marina reforçou que não se pode ceder ante uma proposta que visa a desconstituição dos institutos e universidades públicas. Para ela, não há o que tergiversar. “Não há o que negociar em torno desse projeto. seria nosso erro achar que há algo que pode ser negociado. Como negociar uma perspectiva futura desconsiderando 30% de contingenciamento? Desconsiderando que esse governo está nomeado reitores (à revelia das comunidades acadêmicas)? Para ela, estamos diante de uma tentativa de mudança brutal para a qual é preciso resistência e enfrentamento: ante a diversos ataques em várias frentes, em a universidade brasileira conseguindo barrar o Future-se, vai estar indo além dos muros, apontando para outros focos de resistência a perspectiva de vitórias: “se a gente conseguir barrar isso, a gente vai colocar a luta em outro patamar!”. Confira no vídeo a íntegra do evento.
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