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Maria dos Remédios Castelo Branco: "Não é uma doença banal. A gente não pode dizer que é apenas uma gripezinha"

A transmissão ao vivo realizada pela Apruma na tarde desta terça-feira, 31, que contou com a participação da Profª. Drª. Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco (Médica infectologista; Doutora em Medicina Tropical e Saúde Internacional, pesquisadora e professora associada da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, e também do Prof. Dr. Antonio Gonçalves Filho, também professor da UFMA, médico e presidente do ANDES – Sindicato Nacional, transformou-se num esclarecedor bate-papo sobre a pandemia atravessada hoje pela humanidade, bem como sobre a forma do país e de sua população encararem este momento.

A ação contou com a participação de pessoas de diversas regiões do Estado, que acompanharam a transmissão na página da Apruma no Facebook. Foi também a primeira da sessão iniciada durante o período de distanciamento social imposto pela tentativa de frear a propagação do novo coronavírus que contou com tradução de libras, realizada pelo intérprete Matheus Lopes.

Importância da Ciência, da Pesquisa, da Saúde e da Educação Públicas

Durante a conversa, ficou evidenciada a importância do investimento no setor público, o que ficou mais claro para a população neste momento. Antonio Gonçalves destacou a capacidade de uma universidade pública brasileira sequenciar o genoma do novo coronavírus em tempo recorde (48h), “com uma equipe predominantemente feminina”, disse. Maria dos Remédios complementou que quem tem a “capacidade de dar pronta resposta (à crise sanitária) é o sistema público, que inclusive é subfinanciado. É o SUS, o nosso Sistema Único de Saúde”.

Afinal, o novo coronavírus foi criado em laboratório?

“Pesquisas já comprovaram que não há a menor possibilidade de ele ter sido criado em laboratório. Também não tem o menor sentido do ponto de vista político: como um país iria criar um vírus e jogar primeiro em si e após nos outros?”, indagou a professora.

Condenável hierarquização da ciência

Também jogando para sua plateia conservadora, o governo aproveitou a situação para cortar recursos das pesquisas na área de Humanas, como já informou o site da Apruma. Para Antonio Gonçalves, esse ataque evidencia mais uma vez o caráter anticiência desse governo, inaceitável num momento de crise como este, além de falsear uma hierarquização inexistente do conhecimento científico, ainda mais “num momento em que a gente está discutindo inclusive uma nova sociabilidade (advinda do distanciamento social). As Ciências Humanas são fundamentais”.

Gripezinha?

Gonçalves ressaltou que diante da pandemia muitas pessoas passaram a desconfiar estarem contaminadas, relatando sintomas parecidos ao que a imprensa cita como características da Covid19. Para ele, vai se estabelecendo no inconsciente coletivo uma sintomatologia resultante do cenário da pandemia – daí a necessidade de mais esclarecimentos em relação ao assunto.

Ao falarem sobre os sintomas da nova doença e suas semelhanças com o que até então, antes da aula da Dra. Maria dos Remédios, poderíamos considerar como uma gripe “comum”, os médicos foram categóricos, como expressa a fala da também professora: “Não é uma doença banal. A gente não pode dizer que é apenas uma gripezinha”.

Além disso, ela lembrou os casos de H1N1 que vêm ocorrendo  no Maranhão desde o final de 2019, “depois que começaram as chuvas, casos graves de H1N1, inclusive com óbitos. Também (há) a circulação de Influenza B, casos graves com internação prolongada. Gripe (de modo geral) não tem nada de banal, e pode complicar em determinadas populações, como gestantes, obesos, crianças de até dois anos, e (portadores de) doenças como diabetes“, chamou atenção.

Para ela, é preciso “tirar da cabeça que gripe é doença banal”, repetiu, exemplificando que médicos, por exemplo, não devem atender pacientes estando gripados, pois isso pode impactar gravemente determinadas populações, como as citadas anteriormente. “A gente pode se recuperar, mas outras pessoas podem ser acometidas. Não devemos circular”, reforçou.

Com o Covid19, suas orientações ganham ainda mais relevância.

A Dra. Remédios relatou que, na capital maranhense, já se tem notificação de casos graves de Covid19 em diabéticos e hipertensos, independente de idade, e que também “São Luís já conta com transmissão comunitária. Significa que o vírus está circulando, e circulando bastante”. Antonio Gonçalves por sua vez chamou atenção para o fato de que as ocorrências de Covid19 começam a entrar, dessa forma, na vida social, “com pessoas conhecidas nossas sendo acometidas”.

Com isso, não se pode abrir mão no momento do isolamento social.

Ela lembra que essa estratégia deve ser reforçada, e que três pessoas reunidas já representa aglomeração. “É um momento particularmente difícil. Cada um de nós tem uma responsabilidade muito grande (e que pode ter) consequência no crescimento da curva (do número de casos e suas complicações)”.

“O momento tem que ser de serenidade, não baseado no achismo, no que a gente quer que aconteça, mas baseado em dados”, disse ela.

Sobre isso, lembraram do uso de substâncias como cloroquina como forma de tratamento e a corrida às farmácias atrás do produto. Eles ressaltaram que os trabalhos que apontam tratamento com uso dessa substância ainda são frágeis, com reações graves em muitos casos. Daí a importância de se observar o protocolo de pesquisa, o que impede o uso em massa desse material.

Sobre as orientações de Bolsonaro contrariando a comunidade científica e a Organização Mundial de Saúde, incentivando rompimento do isolamento social necessário no momento, a professora classificou como “um sinal muito errado dado pelo presidente da República. Ninguém quer a atual situação. Se você toma uma medida dessas (governos estaduais e líderes mundiais orientando o isolamento), é porque está seguindo o que as autoridades sanitárias estão dizendo. (É) muito sério, uma das situações mais sérias que nós, que estamos vivendo atualmente, estamos passando. Para a pandemia acabar, depende de uma série de medidas. Não é uma questão individual, mas de saúde pública“, orientou a professora.

Ao final do bate-papo, o professor Bartolomeu Mendonça, presidente da Apruma, saudou os convidados, destacando a luta para que o patrimônio brasileiro seja efetivamente colocado para atender o povo brasileiro: “E nosso sindicato está nessa luta”, destacou.

Confira a íntegra da transmissão:

https://www.facebook.com/apruma.secaosindical/videos/vb.658968684165996/594247914506020/?type=2&theater&notif_t=page_post_reaction&notif_id=1585683719533911

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