O dia é do/a trabalhador/a!
A cada dez anos um grande homem.
Quem paga a conta?
(Poema: Perguntas de um trabalhador que lê. Berthold Brecht, 1935).
Convencionou-se que primeiro de maio é dedicado ao\à trabalhador/a, como tantas outras datas que fazem alusão a outros processos no interior das tensões entre capital e trabalho. Este primeiro de maio, ano 2020, é diferente de dezenas de outros em razão de nós trabalhadores/as estarmos submetidos/as à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Neste dia, além de celebrarmos nossa condição de protagonismo e de resistência como trabalhadores/as, é imperioso destacar e fazer emergir da memória aqueles/as ceifados pela peste. São vidas, desempregadas, trabalhadoras da limpeza, da educação [nossos/as queridos/as colegas professores/as], categorias na linha de frente, como profissionais da saúde, motoristas, limpeza, coveiros, que foram interrompidas pela letalidade do vírus, mas também pela opção política dos grupos que governam nosso país há séculos. Os resultados nefastos desta pandemia estão diretamente relacionados à brutalidade como se organizou nossa estrutura social que separa, nós trabalhadores/as da riqueza que produzimos.
O avanço de atos formalizados, perpetrados pelo capital, no passado e no presente, como a as reformas da previdência, trabalhista, a EC-95 que limita os gastos públicos com políticas sociais, as mudanças dos marcos da mineração, da demarcação de terras indígenas, das privatizações, principalmente, dos serviços de saúde, educação e das riquezas naturais ampliam cada vez mais as tensões e geram pobreza, morte, dor, que pavimentam as ruas da história para “a cada tempo surgir um grande homem” para aplacar os males realizados pelos grandes homens do passado, nossa história está cheia deles: do imperador ao doutor e ao operário, chegando ao esgarçamento com o messias [fascista], o resultado é uma nação sem estrutura de saúde pública e vontade política para aplacar as dores das pessoas dos guetos, das periferias, do trabalhador/a.
Este primeiro de maio nos coloca a tarefa de construir o protagonismo do trabalhador/a, de rejeitar a aparição ou retorno de “um grande homem”, que fatalmente deixará a conta para nós trabalhadores/as e ainda nos responsabilizará pela tragédia.
Agora é tempo de solidariedade, de luta, é tempo de chorar nossos mortos, é tempo de cuidar de si e dos nossos, é tempo de cultivar a unidade da nossa classe, da nossa categoria, é tempo de derrotar mais um “grande homem”, é tempo de superar a pandemia.
É tempo de valorizar a educação pública, a saúde pública [o SUS], de lutar para que, finalmente, desapareçam oprimidos e opressores e os “grandes homens”: que homens e mulheres sejam comuns [na mais profunda acepção do comum – com-um, plural, coletivo].
Viva o homem, a mulher comuns!
Viva o/a trabalhador/a!
Viva o/a professor/a!
Viva o SUS!
Viva a memória dos tragados pela peste.
Bartolomeu Mendonça
Presidente da APRUMA-Seção Sindical
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