A transmissão ao vivo realizada pela Apruma na última quinta-feira, 30 de abril,constituiu-se num momento bastante produtivo, que contribuiu para mostrar os sentidos do trabalho acadêmico para a sociedade, trazendo como exemplo o que vem sendo feito no projeto de produção de álcool glicerinado na UFMA, coordenado pelo professor Ulisses Nascimento, que participou do debate. O projeto vem contribuindo para distribuir sua produção entre unidades da Universidade e pretende estender para comunidades durante a pandemia do Covid19.
O professor Felipe de Holanda, também convidado, falou sobre os sentidos sociais do trabalho, e como o esgarçamento das concepções ultraliberais contemporâneas vêm trazendo graves implicações tanto para o meio acadêmico e a produção ali realizada, como para a sociedade como um todo. O debate foi mediado pela professora Lucelma Braga, da UFMA Campus Chapadinha.
Durante a apresentação que fez do professor Ulisses, do Departamento de Tecnologia Química da UFMA, e do professor Felipe, do Departamento de Economia, Lucelma também fez uma introdução dos temas que estariam em discussão naquela tarde. Ela explicou que, como pano de fundo, as discussões trariam os embates entre as tentativas de fazer da produção acadêmica algo meramente instrumental, por um lado, e os esforços dos educadores em realizar uma produção amparada no ensino, na pesquisa e na extensão e que busquem enfrentar os problemas reais postos na sociedade.
Ela alertou que, diferentemente do que o governo tenta passar, de que é “preciso a universidade Lembrou a campanha que vem sendo desenvolvida pelo Andes Sindicato Nacional e que mostra isso, trazendo a público os esforços das universidades durante a pandemia com produção de livros, cartilhas sobre Covid19, máscaras, respiradores, álcool etc, apontando como as instituições estão voltadas para o interesse coletivo.
“A Universidade sempre esteve à disposição da sociedade. Não seria diferente num momento como esse”
O professor Ulisses corroborou com o que fora inicialmente apresentado pela professora Lucelma.
Ele começou detalhando como teve início o projeto que já distribui, em suas primeiras fases, centenas de litros de álcool glicerinado a unidades da UFMA e ao Hospital Universitário, que, por sua vez, é uma das unidades de referência no Estado no enfrentamento ao Covid19. Lembrou ainda, a exemplo do que destacou Lucelma, que esse trabalho é uma parte do que vem sendo feito pelas instituições públicas de ensino, a UFMA em particular, durante a pandemia.
Segundo Ulisses, o projeto surgiu em uma conversa, no dia 12 de março, entre professores, que depois chegou aos alunos, que vinham com vontade de desenvolver algo do tipo, mas que tinham dificuldades de se organizarem. A produção inicial foi feita a partir da matéria-prima (etanol) doada pela BR Distribuidora (mil litros). Para a continuidade, outras doações estão previstas, como frascos para envase, vindos da fábrica maranhense de refrigerantes Psiu.
O professor também falou da opção pelo álcool glicerinado a 80% dada a dificuldade de se obter insumos para produzir álcool em gel. Como a Anvisa liberou alternativas ante essa escassez generalizada, optou-se por essa forma. Com isso, já foram entregues 200 litros ao Hospital Universitário, para o qual também já há mais 300l prontos, que estavam, naquele momento, passando pelo controle de qualidade feito pelo Laboratório do Controle de Qualidade de Alimentos e Água, ligado ao Departamento de Tecnologia Química. Todo o processo, aliás, envolve, como destacou o professor, diversas áreas da Universidade, numa mostra de esforço coletivo acadêmico para que esse trabalho seja feito. “É todo um corpo universitário, composto por alunos, técnicos e professores, trabalhando com esse objetivo-fim”, falou.
Mais uma vez, fez questão de ressaltar que essa é somente uma parte do que vem sendo feito, lembrando tudo o que vem sendo gerado pela Universidade, há anos, nas cidades onde tem campus. Sobre a continuidade dessa ação, ele disse que o projeto não tem data para acabar, até porque, com o esperado fim dos momentos críticos da pandemia e o retorno às atividades na Universidade, será preciso produzir álcool em qualidade para atendê-la, além de se pensar também em outros produtos, como sabão, detergente etc. “O projeto vai continuar, vai ser perene. Vamos estar à disposição da Universidade, que está à disposição da sociedade, como sempre esteve, e não poderia se furtar num momento como esse“, acrescentou. Além disso, ainda nesta etapa de confinamento social espera-se que a produção ajude a atender, além da UFMA, outras instituições que inclusive já solicitaram essa contribuição, como a APAE, além das comunidades do entorno. “Um desafio”, resumiu.
“O ataque à universidade se dá porque ela é um espaço de inquietação, o que para as pessoas que chegaram ao poder é uma ofensa, o pensar criticamente”.
O professor Felipe de Holanda iniciou sua participação demarcando um pouco como a academia lida com este momento. Lembrou dos recursos múltiplos que permitiram dar continuidade aos trabalhos durante a pandemia, ressaltando que haverá reposição das aulas. Para ele, esse momento tem sido usado para aprofundar os conhecimentos, para provocar e estimular o fazer acadêmico nos estudantes, como a produção de artigos e outras atividades.
Aprofundando a conversa, ressaltou a crise atual no mundo do trabalho, até então caracterizado pelo trabalho assalariado como centro, mesmo em países como o Brasil sempre contando com uma massa de trabalhadores sem acesso ao fazer assalariado.
Ele destacou ainda a invisibilização de grupamentos sociais desde a escravidão, com a noção de cidadania também seguindo essa lógica. “A Constituição Federal de 1988 corrigiu parcialmente, com Seguridade Social e sistema de proteção ao trabalhador, que hoje passam por ataques violentíssimos” pontuou.
Felipe de Holanda também ressaltou, entre essas mudanças que geram ataques e sobressaltos no mundo do trabalho, que a política de emprego vem sendo substituída pela noção de mercado de trabalho, dispensando-se a formalidade. “Não busca pleno emprego, mas joga sobre o trabalhador a responsabilidade por estar desempregado“, acusando-o de não ser competente, de não ter formação, anotou.
O cenário atual, aliás, é um momento diferente da primeira década deste século, como lembra Felipe, em que houve ampliação do emprego e capilarização da Universidade. Daquele momento, ficou ainda a dificuldade de permanência, marcado, além da interiorização, pelo produtivismo, com publicações em periódicos indexados assumindo um peso desproporcional. de hoje, ressaltou que os ataques à Universidade advêm desta ser um espaço de inquietação, do pensar criticamente, “o que, para as pessoas que chegaram ao poder, é uma ofensa“. Isso demarcada o momento desestruturante da Educação Pública. “O necropresidente pratica o necropopulismo, sobretudo no enfrentamento à pandemia, que colocou o país como hot spot do coronavírus em duas semanas”, destacou.
Para Felipe, desde 205 entramos numa espiral recessiva, com cortes e ajustes e redução de programas sociais. Desde o governo Dilma, então, pratica-se uma grande liquidação de ativos públicos, com o cenário piorado pelas pessoas que hoje pilotam essa política sem sensibilidade alguma, enfatizou. “Precisamos do oposto, de gastos extraordinários, a exemplo do que fez o governo da Inglaterra, um país insuspeitamente neoliberal”, comparou.
A mediadora, então, a partir das apresentações, pontuou que as falas ajudam a perceber que, mesmo com as dificuldades, ao contrário do que se diz, a universidade não está parada.
Confira a seguir a íntegra da transmissão. Nesta quinta-feira, 7 de maio, é a vez de discutir o trabalho docente desempenhado pelos professores e professoras da UFMA nos mais diferentes municípios do Maranhão. A transmissão, mediada dessa vez por Jesus Marmanillo (Campus Imperatriz), conta com as participações de Thiago Lima (Campus São Bernardo), Ana Paula Ribeiro de Sousa (Bacabal) e Ubiratane Rodrigues (Grajaú). O início é às 16h, no Facebook da Apruma.
https://www.facebook.com/apruma.secaosindical/videos/230866868183178