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#AprumaDebate – Colun: EaD não é o modelo que nós concebemos para um colégio de aplicação

A transmissão ao vivo realizada pela Apruma na última quinta-feira, 28 (e que pode ser vista na íntegra ao final deste texto), tratou das interfaces entre educação básica, graduação e pós-graduação em meio aos desafios do contexto da pandemia, a partir da experiência do Colégio Universitário da UFMA (Colun), com participação do diretor geral da instituição, professor Janilson Viégas, e da  professora Cláudia Simone Lopes, pedagoga que atua na equipe técnico-pedagógica do Colégio Universitário. A mediação foi feita pelo presidente da Apruma, Bartolomeu Mendonça, também professor do Colun. Como sempre, os debates procuram contemplar acessibilidade através da tradução simultânea em LIBRAS.

Janilson fez uma fala que mostrou as aproximações que, à primeira vista, não parecem ser tão evidentes, entre as áreas da educação básica, da graduação e da pós, mas que são uma realidade cotidiana para o Colégio Universitário da UFMA.

Natureza de um colégio de aplicação como o Colun/UFMA

Ele explicou que por sua natureza como Colégio de Aplicação, o Colun é uma escola de experimentações – pedagógica, científica, de práticas de pesquisa, de ensino, de extensão, constituindo-se, dessa forma e também, como um campo de estágio dos cursos de graduação, em especial das licenciaturas.

O diretor citou ainda as dificuldades trazidas pela atual situação para toda a comunidade do Colun.

No âmbito do Colégio, frisou que é defendido o isolamento social, único meio até hoje capaz de evitar a propagação do novo coronavírus. Para Janilson, não se deve esquecer que a prioridade do momento é a vida.

Quanto ao retorno, incerto que é, surge antes dele os questionamentos em torno do trabalho remoto.No caso da Educação à distância (EaD), fica claro para ele que essa não é a saída dada a natureza de uma escola de aplicação, que envolve troca de experiências e sociabilidades. “Nós, que trabalhamos na educação básica, defendemos que esta não é a solução adequada. Sabemos que o momento não é fácil. A pandemia atinge a vida toda, não somente a economia; ela também, mas ainda a família, a própria academia, não uma coisa só. E está sob o foco a nossa saúde, que é importante preservar”, disse.

Sobre as condições para a EaD, Janilson ressaltou que mais da metade dos alunos não tem sinal de Internet com qualidade em seus domicílios. “Não só não tem sinal de qualidade como não tem equipamentos adequados, como computadores, tablets, celulares adequados para acompanhar as atividades. 24% dos nossos professores se encontram no grupo de risco, por diversos fatores: ou porque tem 60 anos ou mais; alguns são portadores de diabetes e alguns são hipertensos. Sem considerar os que tem filhos pequenos, ou que o companheiro ou companheira são profissionais de saúde. Outro aspecto que nos afeta é o psicológico: vários já perderam familiares, e outros já contraíram o vírus. Tudo isso acarreta uma tensão psíquica muito forte. A pergunta que se faz é: quais as condições psicológicas que nossos docentes se encontram para fazer frente às suas atividades docentes?”, questiona, lembrando que não há como desconsiderar esse fator.

“Educação se mistura com a vida o tempo todo”

Partindo do pensamento do sociólogo Boaventura Sousa Santos, a professora Cláudia Simone iniciou sua fala apontando a questão fundamental da educação para o indivíduo e para a sociedade. Ela destacou dois tipos de educação, a familiar e a escolarizada, para discutir as implicações de fusão entre ambas, proposto pelos que defendem a Educação à Distância como alternativa neste momento.

Segundo explicou a pedagoga, mesmo para quem tem condições materiais de aceitar a EaD, esta não alcançará aquilo que a escola proporciona como espaço único de interação e de socialização.

Cláudia também ressaltou que ensino remoto perpassa a saúde mental de professores e alunos. “Quem tem filho e está passando por isso nas escolas privadas está vendo. Não funciona, porque dentro do processo de ensino o conteúdo é somente um dos elementos”, indicando para a variedade de questões trazidas pelo ambiente escolar que a EaD não comporta.

Mesmo na questão do conteúdo, a professora lembra que o próprio currículo é algo vivo, porque existem interações sociais que não podem ser abdicadas. Como Janilson, ela também enfatiza que precisa ser assegurado o direito de todos, e se as condições não estão dadas de forma igual para que todos os alunos sejam incluídos nessa proposta, então ela não pode ser aceita. “Precisamos resistir para que seja 100%, para todos. É preciso também garantir a tríade presente na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação): acesso, permanência, sucesso escolar. Se não garantir esses pilares, não é colégio de aplicação”, afirmou. Para ela, qualquer proposta formulada nesse sentido deve se basear, antes, em pesquisa, num amplo processo de participação, devendo abrir canais de escuta da comunidade.

Os professores do Colun apontaram que estão na frente da resistência para assegurar que o papel do Colun para o Maranhão seja resguardado, bem como a saúde de toda a comunidade.

Nós, que já trabalhamos em EaD, sabemos os limites que essa modalidade tem; imagina o que é implantar isso na Educação Básica. O Colun tem uma tradição de pesquisa e de um conjunto de atividades e projetos que demandam participação de alunos e professores, visitas aos mais variados espaços do Maranhão e fora do Maranhão. A EaD não se adequa. Não temos condições de executar nossas atividades por via remota”, enfatizou Janilson.

Cláudia incluiu, para além das questões técnicas, a formação do docente que é convocado a atuar dessa forma. “Tem nossa postura ética, nossa responsabilidade social e política. Se quisermos uma posição tecnicista, tem (como implementar EaD), porque não precisa pensar. Mas se a gente pensa como emancipação humana, não é o modelo que conseguimos entender para uma escola como um colégio de aplicação“, defendeu.

Eles voltaram a ressaltar, durante as intervenções da audiência, questões a que estamos submetidos no momento, como ansiedade, estresse, com pais adoecidos, professores também, além dos estudantes. Insistir nesse quadro neste momento, colocam , faz com que a escola se transforme em uma clínica.

Ao final, Bartolomeu agradeceu a participação e a forma como conduziram, com tranquilidade, a discussão de um tema delicado. Ele também se disse aliviado por perceber que, o Colun não vai deixar ninguém para trás, sem tentar insistir  numa modalidade que apenas alguns podem ter alcance.

Confira a íntegra do Debate:

https://www.facebook.com/apruma.secaosindical/videos/370165983941218/

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