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Andes-SN lança vídeos que tratam de questões raciais e LGBT no espaço e na militância docente

Cumprindo resolução de seu 36º Congresso, foram apresentados, durante o 37º Congresso do Andes-SN, que terminou no último dia 27 em Salvador/BA, dois vídeos produzidos pelo Sindicato Nacional, com o apoio da SEDUFSM (Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Santa Maria), que tratam da visibilidade das questões étnicorraciais e das questões LGBT na militância docente. Os documentários podem ser vistos ao fim desta matéria.

Narrativas Docentes – Memória e Resistência Negra

Com cerca de 29 minutos, o vídeo “Narrativas Docentes – Memória e Resistência Negra” traz depoimentos emocionantes de docentes de Norte a Sul do país relatando os obstáculos no enfrentamento ao preconceito e ao racismo e a luta pela ocupação de espaços negados à população negra desde à infância até a universidade, e como essa luta refletia-se também em aspectos identitários e de autorreconhecimento e o papel da Educação nesse processo – até chegarem a ocupar os espaços na docência atualmente.

O filme mostra como é produzida na população a estranheza de um espaço que é para ser visto como “não-seu”, a estranheza que causa um espaço que lhe é negado.

“A universidade brasileira é uma universidade racista, eurocêntrica, que busca passar os valores das classes dominantes”, relata, no material, a professora Cláudia Durans. Seu depoimento encontra eco na fala do professor Rosenverck Estrela Santos, também da UFMA: “É uma universidade que é branca, que se pensa branca, e que constroi um projeto de país que é branco”.

Essa construção se dá, por exemplo, no ocultamento da História Negra dentro da própria Universidade: a história das revoltas da população negra não são contadas. Quilombo dos Palmares não é falado, diz o professor Rosenverck. “Poucas pessoas leem Guerreiro Ramos, Suely Carneiro. Porque a Universidade inclusive rejeitou os intelectuais negros que produziram. Eu li Guerreiro Ramos foi no espaço de militância, não foi na Universidade”, complementa a professora Caroline de Araújo, da Universidade Estadual da Bahia.

No vídeo é mostrado ainda como a África é esquecida enquanto berço da Humanidade, emergindo, em seu lugar, uma Grécia branca, e como isso é reproduzido pela universidade brasileira.

Ainda sobre a questão dos espaços negados à população negra, o acesso à própria universidade. “O acesso fica tão difícil que ele não consegue entrar. E quando ele consegue entrar, não consegue permanecer”, diz a professora Cláudia da Silva Magalhães, da Universidade Federal de Roraima.

O professor Gean Santana, da Estadual de Feira de Santana, aponta o “clichê branco e hétero” pensado nesses espaços. “Quem está fora desse padrão já não é bem visto”, aponta. Outro “desvio de padrão” é visibilizado em “Narrativas Docentes – Memória e Resistência LGBT”, também produzi pelo Andes com apoio da SEDUFSM.

Narrativas Docentes – Memória e Resistência LGBT

O segundo vídeo, também com cerca de 29 minutos, cujo título está inscrito acima, busca contribuir com a visibilidade de trajetórias da militância das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT) no espaço e no movimento docentes.

“Pelo menos desde que eu me lembre, desde o começo era claro que aquilo não deveria ser demonstrado, deveria ser vivido escondido”, conta o professor Eduardo Henrique Guimarães, da Universidade Federal da Paraíba, sobre a forma como via a percepção de sua sexualidade pelos outros. A professora Cataria Dallapícula, da Federal de Lavras, conta: “A bissexualidade pra mim sempre foi normal, embora “normal” seja um conceito que a gente deva abandonar”.

Esses são alguns dos depoimentos trazidos pelo documentário que apontam a necessidade de visibilidade da questão como forma de enfrentamento à violência representada também pela sua ocultação.

Visibilidade Trans

Além dos lançamentos dos documentários do Andes-SN outra data celebrada esta semana na luta contra as opressões é o Dia da Visibilidade Trans, 29 de janeiro.

A data simbólica foi criada em 2004 e é destinada a lembrar a luta de pessoas travestis e transexuais pelo respeito à identidade gênero, orientação sexual, e direitos básicos que são diariamente negados dentro da sociedade.

Durante o 37º Congresso do ANDES-SN, realizado em Salvador (BA) entre os dias 22 e 27 de janeiro, os docentes aprofundaram o debate sobre os temas relacionados à identidade de gênero e ao direito ao nome social para pessoas trans. Os delegados aprovaram a incorporação da luta pela tramitação e implementação do Projeto de Lei (PL) 5002/13 (Lei João Nery) às pautas do Sindicato Nacional.  O PL garante o direito do reconhecimento à identidade de gênero de todas as pessoas trans no Brasil, sem necessidade de autorização judicial, laudos médicos nem psicológicos, cirurgias ou hormonioterapias. Assegura o acesso à saúde no processo de transexualização, despatologiza as transindentidades para a assistência à saúde e preserva o direito à família frente às mudanças registrais.

Resolução do Ministério da Educação (MEC) homologada no último dia 17 autorizou o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares da educação básica. A norma busca propagar o respeito e minimizar estatísticas de violência e abandono da escola em função de bullying, assédio, constrangimento e preconceitos. O nome social é aquele pelo qual as travestis, mulheres trans ou homens trans optam por ser chamados, de acordo com sua identidade de gênero.

A resolução ainda será publicada no Diário Oficial da União. Com a edição da medida, o ministério atende à demanda de pessoas trans que querem ter sua identidade de gênero reconhecida. Em 2015, uma resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (CNDC/LGBT) definiu parâmetros para acesso e permanência de pessoas trans em diferentes espaços sociais, entre eles o direito ao uso do nome social nas redes de ensino.

Veja também:

29 de janeiro é Dia da Visibilidade Trans

MEC autoriza uso de nome social na educação básica para travestis e transexuais

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